Um pequeno ABC da criação do Betta splendens

"A produção de Betta splendens é das mais fáceis, entre as diferentes criações de peixes". Foi qualquer coisa deste género que li um dia num blogue da Internet. E realmente é, depois de se saberem todos os pequenos passos essenciais para evitar os grandes desastres que sempre podem acontecer.

Então, qual é a primeira coisa a fazer quando se pretende criar o Betta splendens?

Primeiro, como é óbvio, devem adquirir-se os progenitores. Estes encontram-se em qualquer aquariofilista ou simples loja de animais de estimação, mas é preciso muito cuidado nesta aquisição. Primeiro porque os lojistas não são necessariamente especialistas no assunto. Não se deve acreditar por completo em tudo aquilo que eles nos dizem. E segundo, as condições em que os animais são "armazenados" nestas lojas não são, nem de longe, as mais adequadas e muito facilmente encontraremos peixes que, embora pareçam por vezes saudáveis, mostram sintomas de doenças ou debilidades que só um criador com alguma experiência poderá detectar.

Barbatanas que se desfiam, escamas levantadas, abdómen muito inchado ou muito afilado, pequenos pontos brancos ou estruturas filamentosas espalhados sobre todo o corpo, forma de nadar atabalhoada ou dificuldades na flutuação são alguns dos muitos sintomas que podem passar despercebidos mesmo a olhos bastante críticos.

O tamanho e o aspecto dos casais reprodutores

Deve então seleccionar-se um macho e uma ou duas fêmeas que apresentem algumas características importantes:

- Sejam saudáveis, nadando activamente e reagindo com rapidez a sombras, à introdução de alimentos, à aproximação de outros peixes, etc.

- Deve procurar-se que os peixes apresentem um bom aspecto, sem manchas ou feridas, falta de escamas, descolorações da pele, pontos brancos ou filamentos, maxilares proeminentes, olhos projectados, etc.

- Não devem seleccionar-se peixes muito grandes ou que aparentem uma idade avançada. Para tal, deve conhecer-se bem o tamanho médio de cada peixe e seleccionar-se indivíduos de preferência mais novos do que mais velhos. É preferível ter de esperar algumas semanas para começar a criação do que descobrir que afinal o exemplar tem apenas mais alguns dias de vida. Deve também ter-se em mente que uma fêmea de maiores dimensões poderá (e irá concerteza) atacar e maltratar o macho.

- Se possível, deve evitar-se comprar peixes que tenham sido mantidos em água muito estagnada ou junto com outros com sinais visíveis de doença. O nosso eleito poderá não apresentar sintomas, mas irá para a nova casa provavelmente "carregado" com microorganismos que o irão infectar em pouco tempo.

- Devem escolher-se peixes activos, como já se disse, mas ter cuidado de não obter animais stressados (demasiado activos) ou muito assustados, pois a sua manutenção será complicada e o acasalamento acarretará maiores riscos.

- Devem sempre recusar-se peixes que apresentem deformações congénitas (hereditárias) ou malformações resultantes de um maus desenvolvimento (espinha torta, corcunda não natural, forma alterada da boca ou das barbatanas).

- Deve ter-se cuidado e muita atenção com a forma como o peixe é manuseado/manipulado pelo vendedor quando o captura e embala para o transporte. Já não é a primeira vez que, ao chegar a casa com um novo exemplar recém-comprado, este apresenta ferimentos recentes e acaba por morrer devido aos mesmos mais tarde ou mais cedo. Se notarmos que o senhor aquariofilista não teve o devido cuidado - nomeadamente, o uso das redes causa bastantes danos aos peixes - mais vale desistirmos daquele peixe ou da própria compra.

- Devemos garantir que o transporte não demora mais tempo do que o normal (nada de ir beber café ou ficar a ver o noticiário no caminho de casa), no sentido de que quanto mais tempo o peixe andar fora do seu aquário maior é a probabilidade de ser magoado ou de contrair infecções. E, ao chegar a casa, devem ter-se todos os cuidados que normalmente se têm quando se compra um novo peixe - adaptar a temperatura do saco de transporte à do aquário, manter o peixe em quarentena, etc.

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Betta splendens (machos) com um aspecto bastante saudável. Repare-se nas barbatanas sem imperfeições e completamente distendidas, sinal de grande vitalidade. (Imagens retiradas de outros sites)

A manutenção dos peixes em aquário

Chegados a casa, os Betta deverão ter à sua espera o local onde habitarão provavelmente o resto das suas vidas, que se esperam longas e profícuas. Nunca se devem trazer os animais para casa sem ter primeiro analisado as condições necessárias para a sua manutenção. Por outro lado, para assegurar que eles permanecerão vivos e de saúde durante muito tempo, devemos informar-nos ( e isto é válido para a maioria dos animais e plantas que queremos ter em casa) sobre as condições dos seus habitats naturais.

Quais são então as condições em que os Betta se desenvolvem em estado selvagem?

Estes peixes são oriundos de países tropicais como a Tailândia e as Filipinas, onde crescem e se desenvolvem em zonas de águas muito paradas ou estagnadas, cobertas por densa vegetação. Actualmente, e devido ao cultivo intensivo do arroz, os Betta sobrevivem em pequenos charcos laterais aos campos cultivados. De forma a poderem proliferar nestes locais, o seu organismo desenvolveu adaptações, algumas vantajosas e outras menos, como é o caso dos labirintos respiratórios. Estes consistem em conjuntos de canais densamente irrigados por vasos sanguíneos e dentro dos quais o peixe pode acumular ar atmosférico, funcionando como um pulmão primitivo. Desta forma, e como poderão reparar nos exemplares que adquirirem, estes peixes estão continuamente a nadar até à superfície onde trocam o ar contido nestas estruturas. Isto consistiu numa adaptação a um meio aquático muito pobre em oxigénio, gás fundamental para o metabolismo de quase todos os seres. Pode, no entanto, olhar-se para esta adaptação como um handicap, uma vez que estes peixes não sobrevivem assim muito tempo em contentores com grande profundidade, pelo que não deverão ser colocados num aquário comum. Por outro lado, e devido ao facto de terem evoluído em colunas de água relativamente baixas, não suportam grandes pressões que lhes podem ser fatais. Esta observação é da maior importância uma vez que se torna um factor determinante na sobrevivência dos peixes recém-nascidos (os alevinos).
O habitat destes peixes determinou também a forma de reprodução. Como o teor de oxigénio junto ao fundo dos charcos é muito reduzido, a postura dos ovos nessas zonas redundaria num tremendo fracasso. A sua deposição nos caules das plantas também não resultaria favoravelmente devido à abundância de predadores nestas regiões, tais como caracóis, outros peixes, insectos, etc. Assim, e de forma a garantir a sobrevivência do maior número de crias possível, este animal desenvolveu a capacidade de produzir um ninho de bolhas à superfície, utilizando para tal a sua viscosa saliva. Estas bolhas de ar presas por saliva garantem uma plataforma flutuante onde o macho deposita os ovos imediatamente após a cópula. Assegura assim o seu isolamento em relação aos agentes decompositores (fungos e bactérias) abundantes naquele meio, a protecção contra predadores uma vez que este ninho é construído entre os caules da vegetação aquática e um constante suprimento de oxigénio a partir do ar atmosférico. Posteriormente, e para garantir que esta não come os ovos, expulsa violentamente a fêmea. Este tipo particular de reprodução torna os Betta mais atractivos para os aquariofilistas mas vai requerer um maior envolvimento dos mesmos em todo o processo, quando em cativeiro.

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O Habitat dos Betta - zonas de água nem sempre muito limpa, de baixa profundidade e com bastante vegetação.


Indivíduos procurando os ninhos dos Betta em habitat natural e a captura de um ninho de bolhas.


As condições ideais para garantir a manutenção, a longo termo, dos Betta

Sabendo então as condições em que este tipo de peixes, em particular, vive no seu habitat natural, é relativamente fácil compreender, e assim satisfazer, as necessidades básicas do mesmo. Desta forma, devemos acautelar as seguintes situações:

--- Localização do aquário/recipiente

O Betta vive, como acima referido, em locais pantanosos, de grande humidade e temperatura relativamente elevada, deambulando na sombra da vegetação herbácea ou em pequenas poças entre canaviais ou arrozais. Podemos assim deduzir que necessitarão de alguma luz, mas efectivamente dever-se-á evitar a luz directa do sol. Isto porque, por um lado, poderia afectar directamente o peixe e a temperatura da água (que sofreria grandes oscilações entre a noite e o dia/manhã e tarde) mas também a qualidade da mesma, pois excesso de luz é garantia do desenvolvimento de algas e outros organismos nem sempre benéficos à manutenção de uma água isenta de fontes de infecção. Deve então colocar-se o nosso "aquário" numa posição em que o peixe possa disfrutar de uma boa intensidade luminosa mas que em altura nenhuma se encontre sujeito à luz directa do sol. Também fontes de ruído ou de vibrações deverão ser evitadas, principalmente em peixes que se destinem à procriação, se bem que o stress é um grande inimigo de todos os animais.
Podemos então pensar em colocar o nosso animal numa prateleira em local relativamente sossegado, como uma marquise ou sala de estar, sempre com o cuidado de não ficar demasiadamente sombreado nem exposto a movimentos frequentes e bruscos (como por exemplo numa estante de livros à frente daqueles ou numa bancada de trabalhos manuais ). O ideal será um local em que os possamos observar sempre que nos apeteça e alimentá-los sem que a nossa presença os perturbe. Também poderão ficar muito bem no parapeito de uma lareira, não esquecendo de mudar de lugar durante a sua utilização. A mobilidade do aquário é muito importante, pelo que não se recomendam objectos muito pesados ou de equilíbrio precário.


--- O aquário ou recipiente

Como já se viu, o Betta não necessita de uma água muito limpa nem de grande quantidade da mesma para sobreviver. Por esta razão, e por outras já enumeradas como a sensibilidade à pressão, não é necessário nem aconselhável um recipiente muito grande para alojar cada um dos nossos peixes. Por outro lado, se usarmos um grande volume de água em breve encontraremos um ou mais problemas: os Betta, porque não toleram águas muito agitadas, não gostam de que utilizemos filtros para a água. Desta forma, torna-se necessário trocar a água total ou parcialmente com alguma frequência, o que será dificultado se usarmos uma grande quantidade da mesma. Também é sabido que estes animais apresentam um estilo de vida muito solitário, em que cada macho defende até à morte um determinado espaço quer contra outros machos quer inclusivé contra fêmeas. As próprias fêmeas podem ser territoriais e, quando na mesma área, algumas desencadeiam grandes lutas territoriais. Assim, se tivermos três ou quatro peixes (ou, na melhor das hipóteses e se a criação tiver sucesso, algumas centenas de indivíduos), torna-se muito complicado prover um aquário para cada indivíduo.
Assim, o que aconselho é a utilização de pequenos aquários individuais de plástico à venda no comércio especializado (e que custarão, em média, cerca de 7 a 8 euros) ou de vidro, sendo que estes últimos se tornam bem mais dispendiosos na aquisição. Eu, por exemplo, tenho dois desses aquários de plástico, muito práticos, mas improvisei, porque por vezes posso ter de fazer uma desinfecção mais morosa num deles, contentores que resultaram do aproveitamento das caixas onde são vendidos os telemóveis, em acrílico. Há, no entanto, um pequeno pormenor com que devemos ter cuidado - verificar se as dimensões do nosso aquário permitem a colocação de um termóstato, essencial para os meses frios. Em última instância, e se os peixes se destinarem apenas à procriação e a ornamentação não for um factor crucial, podem ser mantidos em frascos de vidro ou plástico (vários), emersos em água dentro de um contentor de plástico onde colocamos o termostáto. Assim poupamos no sistema de aquecimento e no espaço ocupado. Neste caso, deveremos verificar se os peixes têm luz suficiente, utilizando preferencialmente contentores translúcidos.

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Os aquários em plástico que uso, leves, práticos (a tampa solta-se para facilitar a limpeza) e com um volume de água mais que suficiente para um ou mesmo dois Betta (separados em frascos de plástico, obviamente). Normalmente dispenso os acessórios (areia e outros objectos) pois não são nada práticos de limpar e podem magoar os peixes. Cuidado, pois existem muitos tamanhos diferentes e nós iremos necessitar de um em que caiba o nosso aquecedor.



O aquário ou contentor deverá ser adquirido a pensar fundamentalmente no bem-estar do peixe e não do seu proprietário.


--- A água e o seu tratamento



Sendo animais de zonas de água pouco profunda, não muito limpa e parada, podendo chegar mesmo a ficar estagnada, os Betta não são muito esquisitos no que diz respeito à água onde vivem. Assim, esta deverá ser limpa, isenta de germes e de substâncias contaminantes mas não deverá ser completamente desmineralizada ou excessivamente filtrada. Este tipo de água pode ser facilmente obtido a partir de uma fonte natural mas, se o for, deverá ser fervida antes de usar, uma vez que normalmente aquela conterá microorganismos. No entanto, a melhor maneira de obter uma água com as características de dureza (quantidade de calcário) e de pH (acidez) óptimas para a criação da generalidade dos peixes é retirá-la da canalização lá de casa (abastecida pela rede de águas municipal). Esta água é tratada, sendo o seu pH próximo de 7 (neutra, portanto) - aproximadamente 6,5. Tem o inconveniente de conter desinfectantes - substâncias à base de cloro - que matam quase instantaneamente os peixes. Existem várias formas de retirar/eliminar essas substâncias, sendo as mais comuns alguns dos produtos existentes no mercado. O que eu uso, não tanto para eliminar o cloro mas porque funciona também como tratamento para os fungos e outras infecções bucais, é o Betta plus da Nutrafin. Protege também o exterior do peixe (escamas e pele) em caso de cortes e arranhões. No entanto, a forma mais segura de eliminar as substâncias tóxicas da água é deixá-la num contentor (pode ser um garrafão de 5 litros, tendo o cuidado de não encher até ao bucal, uma vez que é necessária uma boa área de exposição ao ar atmosférico) ao ar durante pelo menos 24 a 36 horas, dependendo da temperatura ambiente (quanto mais frio, mais tempo demora a difusão dos gases). Só assim podemos garantir que a água não irá causar estragos no nosso aquário.

Ora, uma vez que os peixes não gostam muito de ser manuseados, deve limitar-se o contacto com os mesmos. Por esta razão, restrinjo as mudanças de água a uma vez por semana, no máximo duas. É lógico que isto varia de acordo com vários factores: nos meses mais quentes poderá ter que se efectuar um maior número de mudanças de água e menos no tempo frio; quanto mais alimentarmos os peixes maior será o número de mudanças a que seremos obrigados; em períodos de convalescença ou de tratamento a certas doenças deveremos aumentar o número de substituições da água; etc. Normalmente uso um copo de pequenas dimensões (e de preferência de plástico ou isopor para evitar ao máximo as perdas de calor) para retirar os peixes do aquário enquanto procedo às respectivas limpezas. Se se verificar que uma mudança parcial da água é suficiente (por exemplo para limpar os dejectos que se acumulam no fundo) devemos utilizar um tubo de borracha transparente (a transparência permite monitorizar a formação de colónias de fungos ou bactérias ou ainda a acumulação de resíduos no seu interior). Este permitirá, por sifonagem, limpar os resíduos sólidos formados, bem como substituir uma boa porção da água (até 2/3 da mesma) sem ter que se mexer nos animais. Convém manter uma relativamente grande quantidade de garrafões/recipientes com água a "envelhecer" (a perder o cloro) pois nunca se sabe quando ela irá ser necessária.

Em cada substituição de água costumo adicionar umas gotas de um antifungos (normalmente o Fungistop da Tetra) e/ou de um antibacteriano/anti-pontos brancos (o Punktol ultra da JBL) na proporção de uma gota para cada litro. Também se deve ter em atenção que a água adicionada deve estar, impreterivelmente, à temperatura da água do aquário.



--- O aquecimento



Se morar num país tropical ou num apartamento com aquecimento central/aclimatização constante, este parágrafo não lhe diz grande respeito. Isto porque, nessa situação, os seus Betta irão sentir-se (desde que garantidas as restantes condições) praticamente em casa.

Se não vive num clima quente e não possui ar condicionado em casa ou vive, como é o meu caso, num clima que é por vezes excessivamente frio, deverá ter em consideração alguns aspectos. Os Betta provêm de países cuja temperatura é bastante elevada, mantendo-se, em geral, entre os 15 - 18 e os 25 - 30 graus Celsius. Embora possa sobreviver em temperaturas inferiores a este intervalo, sofrerão bastante em tais condições e nunca serão animais completamente saudáveis, apresentando uma duração de vida bastante reduzida em relação aos que sempre viveram em temperaturas ideais.



Como se pode manter a temperatura de água ideal para a criação ou manutenção destes peixes?



Muitos criadores optam, pois torna-se menos dispendioso, manter o aquecimento da água do aquário ou contentor utilizando para o efeito o calor libertado por certos aparelhos ou mesmo por um aquário maior, colocando aqueles sobre estes últimos. Isto pode ser vantajoso em termos energéticos mas torna-se dispendioso em termos da saúde dos peixes. A temperatura da maioria dos aparelhos (por exemplo, de uma TV ou de um aquecedor/irradiador de parede) não é constante e o calor que se liberta de um aquário não será o suficiente para manter um pequeno frasco ou outro aquário à temperatura necessária, pelo que esta sofrerá flutuações em função da temperatura ambiente. E, pior que as baixas ou altas temperaturas para a saúde dos peixes, são as grandes variações da mesma. Muito embora os Betta sejam dos peixes mais resitentes às variações de temperatura, tolerando diferenças bruscas de cerca de 6 graus Celsius, isto só deverá acontecer muito ocasionalmente, pelo que as variações frequentes levarão inevitavelmente, mais tarde ou mais cedo, ao aparecimento de doenças e à morte.

Deve então optar-se, sempre que possível (de preferência, sempre) pela utilização de aquecedores. São aparelhos que combinam uma resistência eléctrica com um termóstato ambiente e que ligam e desligam em função da temperatura do meio envolvente, possuindo um regulador que permite adaptar a temperatura a cada espécie de peixe ou mesmo ajustá-la ao longo das estações do ano. Este dispositivo deve sempre ser testado antes da introdução dos peixes, os quais só serão colocados no aquário quando a temperatura tiver estabilizado no valor pretendido. Existem várias marcas e modelos no mercado, sendo mesmo vendidos nas grandes superfícies comerciais, mas para a criação deste tipo de peixes devem adquirir-se modelos pequenos (também utilizados para o aquecimento de tartarugueiras) pois são mais económicos (existem de 25 e 50W) e mais fáceis de acomodar num aquário ou recipiente de pequenas dimensões.

Se estivermos a usar frascos pequenos para acomodar vários peixes, estes poderão ser acondicionados dentro de um tabuleiro ou contentor de plástico com água, na qual mergulharemos o nosso termóstato (tipo banho-maria). Nunca deve deixar-se o referido aparelho ligado fora de água, pelo que o não devemos remover antes de desligar da corrente nem deixar evaporar a água de forma a deixá-lo a descoberto (em aquários destapados - sem placa de condensação, que pode ser um mero vidro ou placa de plástico - devemos ir adicionando água periodicamente, de forma a repôr a perdida por evaporação).



Como fazer as mudas de água periódicas?



Os Betta, embora sejam peixes muito resistentes, mesmo no que diz respeito às variações de temperatura a que são sujeitos (podem tolerar variações de até 6 graus), rapidamente adoecem ou ficam debilitados se os tratarmos com pouca atenção. Deste modo, devemos ter o maior cuidado quando substituimos a água aos animais. Embora o aquário deva ser lavado com alguma periodicidade, uma vez que ocorrerá acumulação de bactérias, fungos e mesmo algas nas suas paredes e sobre os aquecedores, a maioria das mudanças de água pode e deve ser feita por sifonagem. Para tal, devemos ter um tubo de plástico transparente (semelhante aos vendidos para as bombas de aeração) mas de diâmetro um pouco maior e, com o auxílio do mesmo, retiramos cerca de dois terços da água do aquário (cuidado para não deixar o peixe a seco ou o aquecedor emerso, uma vez que o mesmo poderá estalar, com todas as consequências adversas resultantes dessa situação). Este tubo, que se vende em qualquer loja de ferragens (nas casas de especialidade tornam-se um pouco mais caras) é , depois de devidamente lavado e desinfectado, um utensílio muito útil e que servirá também para repor a água retirada. A água nunca deverá ser despejada de uma só vez, pois assim não haverá uma transição gradual das suas características e o peixe estranhará e muito. Um cuidado também muito importante é o de aquecer a água que irá ser introduzida no aquário até uma temperatura o mais próxima possível da que lá se fazia sentir. Para tal, podem usar-se dois recipientes de plástico bem lavados (eu uso um garrafão de plástico de 5 litros e um alguidar), num dos quais se colocará a água a dar aos peixes e no outro água da torneira aquecida. Colocando-se o recipiente com a água a aquecer dentro do outro com a água aquecida, conseguimos uma eficaz transferência de calor. A água aquecida pode ter que ser substituída, a determinada altura, por mais água quente, pois rapidamente arrefece. Para evitar sobreaquecimentos ou águas muito frias, coloco sempre um termómetro de aquário, em vidro, dentro do recipiente com a água para a substituição. Deve ter-se o máximo cuidado para nunca misturar as águas, mesmo em proporções pequenas, uma vez que o cloro e outros desinfectantes da água da torneira será fatal para os pequenos peixes.

Quando se lava o aquário, o peixe deverá ser retirado para um recipiente lavado (e não usado na culinária nem com substâncias químicas tóxicas ou gorduras) de tamanho relativamente grande para que não arrefecça rapidamente. O aquário deve ser lavado com água e esfregado com um pano ou um esfregão exclusivo para este efeito, pois de outra maneira estaremos a conspurcar, mais do que a limpar, o contentor.

Não se deve mudar a água muitas vezes seguidas e com pouco tempo entre elas (a não ser que o peixe apresente sintomas de alguma doença devida a bactérias ou fungos ou o excesso de comida tenha conspurcado muito a mesma) pois é uma situação muito stressante para os animais.


--- Alimentação



Os Betta não são peixes muito exigentes quanto à alimentação. Embora varie um pouco de peixe para peixe, normalmente aceitam qualquer tipo de alimento que lhes forneçamos, podendo ser alimentados quase exclusivamente com flocos. No entanto, como qualquer animal (nós, humanos, incluidos) eles necessitam de uma alimentação variada e, como tal, equilibrada para se manterem saudáveis, devendo evitar-se os excessos mas também as carências elimentares.

São vários os tipos de alimentos que se podem fornecer a estes animais: flocos (o mais comum alimento para peixes e encontrado em qualquer loja, da especialidade ou não) e alimentos vivos ou frescos. Nesta última categoria incluem-se pequenas moscas ou mosquitos e suas larvas, lagartas da farinha, microvermes, dáfnias ou "pulgas-de-água", vermes do leite e principalmente artémias. Estas últimas constituem um dos melhores alimentos devido à facilidade com que se podem criar a partir de ovos secos e também por constituirem um pitéu atractivo e bastante nutritivo. Também podem ser adquiridas congeladas.

Chama-se a atenção para o facto de que o alimento introduzido é também um potencial contaminante da água do aquário, podendo ser utilizado como nutriente não apenas pelos peixes mas também por fungos e bactérias. Desta forma, toda e qualquer comida deve ser facultada aos pequenos vertebrados de forma lenta e gradual, em doses que sejam rapidamente consumidas. Também se devem evitar alimentos contendo líquidos orgânicos que se dissolverão rapidamente na água ou de rápida decomposição. Por exemplo, recomendo fortemente que a introdução de microvermes, de artémias adultas ou outros que possam conspurcar a água, sejam dados aos peixes algum tempo antes de se fazer uma mudança total da mesma.

Todo e qualquer resíduo alimentar que permanecer na água (e que os Betta não irão comer -são peixes muito esquisitos por vezes no que diz respeito a comida encharcada) deverá ser retirado por sifonagem ou mesmo com a ajuda de uma pipeta de plástico. Desta forma evitaremos a estagnação da água e a infecção dos animais por certas doenças).

Em relação aos meus peixes adultos, alimento-os duas a três vezes ao dia, com pequenas porções de flocos - TetraBetta - e com larvas vermelhas de mosquito liofilizadas da Nutrafin. Ocasionalmente dou-lhes também, como complemento e antes de uma muda de água, artémias adultas congeladas.

Criação do Betta splendens

Há muitos anos que conheço este pequeno e elegante peixe, brigão de feitio, dócil para com o tratador e exuberante nas suas demonstrações de força e domínio do seu território ou de conquista de uma bela fêmea. No entanto, e devido aos meus compromissos pessoais e profissionais e à falta de tempo e de um espaço próprio, fui sempre adiando a sua aquisição e uma pesquisa mais profunda do seu comportamento. Recentemente, no entanto, a minha esposa viu um destes animais numa loja da especialidade e, cativada pelo seu aspecto e também pela sua personalidade, pediu-me se lhe escolhia um macho bonito. Impelido pela minha curiosidade, fiz-lhe a vontade e, em vez de um, comprei dois, um macho e uma fêmea. Escusado será dizer que, tal como já referi mais acima, o entusiasmo dá por vezes em asneira e foi isto que aconteceu comigo. Comprei os primeiros exemplares numa loja em que o vendedor, ainda por cima meu conhecido, me impingiu os peixes mais velhos que por lá tinha. É lógico que os animaizinhos rapidamente mostraram que já não possuíam capacidades reprodutivas normais e em breve adoeceram e morreram. Não querendo desistir logo à partida, cedo adquiri mais exemplares, desta feita um macho e duas fêmeas. Agora com mais calma, seleccionei animais com um aspecto saudável e bastante mais novos, o que rapidamente se traduziu em vantagens.

A criação de Betta splendens não é afinal assim tão fácil como se diz. Pelo menos não até se descobrirem alguns pequenos truques e conhecimentos que, embora pareçam pouco importantes, são a chave do sucesso desta actividade. Não basta portanto juntar os peixes num recipiente com água e esperar que as crias se desenvolvam. Todo o processo envolve uma série de etapas e de procedimentos sequenciais que devem ter lugar na altura certa (nem antes nem depois) e ser realizados de forma calma e metódica (devemos sempre lembrar-nos de que estamos a trabalhar com seres vivos e não com objectos). Embora não se deva entrar em stress, é sempre bom ter uma certa preocupação e realizar as diferentes fases com método e sobretudo com muito cuidado e carinho.


Etapa I - A preparação dos peixes e materiais

Os peixes

Primeiro que tudo, devemos seleccionar os progenitores. Já vimos que os peixes devem ser saudáveis, activos e sobretudo devem ser muito bem alimentados antes de os pôr a criar. O macho irá passar por um longo período sem se alimentar e deverá estar bem nutrido, caso contrário poderá ficar muito debilitado ou subitamente decidir-se a comer todos os ovos ou alevinos, o que é de evitar. Por seu lado, a fêmea estará a acumular uma grande quantidade de ovos no seu abdómen e, como tal, necessitará de um maior provimento de nutrientes, fundamentalmente de proteínas. Deve então aumentar-se o número de vezes que se alimentam os animais por dia, passando de duas ou três vezes para cinco, seis ou mesmo oito momentos de refeição. Cuidado pois não significa isto que se deva aumentar a quantidade de alimento fornecido de cada vez, havendo o perigo de contaminar ou conspurcar a água se se verificar essa situação. Deve também diversificar-se o tipo de comida fornecido, nomeadamente dando-lhes um maior número de alimentos vivos (artémias, microvermes, minhoca triturada, etc.)
Verifica-se que o macho está pronto para o acasalamento (o que parece ser sempre!) quando ele abre muito as barbatanas, exibindo-as intensamente (assim como os opérculos) quando na presença da fêmea. É nesta altura que se pode verificar se ele é um bom constructor de ninhos, o que deverá acontecer quase de imediato. Pelo seu lado, a fêmea deverá estar pronta para o acasalamento quando, para além do abdómen inchado pelos inúmeros ovos que carrega, apresenta o ponto branco acima do orifício genital muito pronunciado e evidente, assim como muda as suas listas, habitualmente horizontais, para listas paralelas verticais.

O aquário/berçário

Preparados os pais, vamos então criar o espaço de procriação. Este não tem de ser necessáriamente grande (não vamos necessitar de nenhum aquário de 100 ou mesmo de 50 litros, até porque os cuidados a ter com o mesmo iriam ser gigantescos), mas também não deve ser muito reduzido, uma vez que uma massa de água pequena facilmente será conspurcada ou inquinada. Normalmente, nos diferentes sites que consultei, são aconselhados aquários ou contentores de 6 ou 8 litros, mas eu prefiro os de 12 litros ou mais, porque assim consigo assegurar a qualidade da água durante um pouco mais de tempo. Depois de várias tentativas, decidi-me então pelos contentores de plástico vendidos ao desbarato nas grandes superfícies e o último que usei era de cerca de 30 litros. Neste fiz, num dos extremos e um pouco abaixo da tampa - que usei como placa de condensação - um orifício pequeno - suficiente apenas para passar um pequeno tubo de aeração - e outro um pouco maior para a renovação do ar no interior do "aquário". Na outra extremidade, fiz uma ranhura para que nela entrasse, à justa, a ficha do aquecedor/termóstato. No fundo do tanque, a cerca de 2/3 do comprimento e com a ajuda de silicone, colei umas pequenas calhas (no caso, as metades das molas da roupa em plástico) que me permitiram usar um separador. Este separador, uma porção de plástico transparente recortado de uma embalagem de brinquedos do meu filho, permitiu-me manter fisicamente afastados, dentro do contentor, a fêmea do macho, sem alterar significativamente o volume (e como tal o nível) da água, o que iria perturbar o ninho de bolhas feito pelo macho. Quer as calhas, quer o separador terão que ter, no mínimo, cerca de 12 a 15 cm de altura, uma vez que o nível da água deverá manter-se entre os 8 a 10 cm de altura.
Temos então o nosso aquário preparado (atenção que o silicone leva pelo menos 24 horas a secar e os materiais deverão ser bem lavados depois, sem a ajuda de detergentes, o que obriga a preparar tudo com muita antecedência). Iniciamos então o enchimento do berçário: podemos colocar alguma vegetação (verdadeira ou de plástico, com o cuidado de que esta não se detiore com facilidade - no caso da natural - e não possa constituir uma fonte de ferimentos para os peixes - em ambos os casos) que constituirá um suporte para a construção do ninho mas também um refúgio para a fêmea ou para os pequenos alevinos; um termometro, que deve ficar vísivel a partir do exterior; o nosso aquecedor e finalmente, a água. Esta deverá ser o mais limpa possível e ter estado ao ar durante o tempo suficiente para perder o cloro (também se pode encher o aquário directamente com água da torneira, mas nesse caso só se introduzirão os peixes ao fim de dois ou três dias). O tubo de aeração deve também ser introduzido nesta fase, embora só vá ser utilizado mais tarde, de forma a não ter que importunar os peixinhos em desenvolvimento.
Nunca se deve usar material para forrar o fundo do aquário, como areia, areão, cascalho ou pedras, uma vez que os ovos que cheguem ao fundo (e ainda são bastantes) ficarão fora do alcance do incansável macho.

Localização do aquário

Tal como referido para os peixes adultos não procriadores, o aquário ou contentor deverá ser colocado num local neutro da casa, mas agora de preferência onde ninguém vá ou onde as visitas se façam sem que os animais dêem pela nossa presença. Deve ter bastante luz, sem que a mesma incida directamente. O aquário deve ser posicionado a alguma altura do chão (por exemplo, em cima de uma mesa, para facilitar as trocas de água por sifonamento). Finalmente, liga-se o aquecedor, tapa-se e espera-se que a temperatura estabilize. Enquanto isso, deve ser colocado um candeeiro com uma lâmpada de baixo consumo (a minha tem 15w, o que equivale a uma normal de 75w) ligado a um temporizador. Este deverá ser programado de forma a assegurar que os peixes tenham luz durante 24 horas por dia. Há quem defenda que este último cuidado é injustificado, uma vez que na natureza os peixes estão sujeitos à alternância entre o dia e a noite, mas eu verifiquei que se torna muito útil, não só porque permite ao macho manter os ovos e as crias sempre em segurança mas também porque me permitiu alimentar as crias mesmo quando, por algum motivo imprevisto, chegava tarde a casa. Ajuda também a detectar algum problema (e eles ás vezes acontecem) que surja durante a noite ou madrugada.

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Um aquário de vidro ou de acrílico pode ser o suficiente para a criação de Betta, mas necessitaremos de um recipiente mais pequeno, transparente, para colocar a fêmea durante a parada pré-nupcial. Há quem utilize para este efeito os vidros (chaminés) dos antigos candeeiros a petróleo por ser mais fácil de remover, deixando a fêmea livre para o acasalamento. As placas que se vêem na figura são, uma de esferovite para evitar a fractura do aquário quando cheio e a escura para alterar a cor do fundo, sendo colocada externamente entre o esferovite e a base. A sua utilização justifica-se porque, durante a postura, o fundo deverá ser escurecido para que o macho consiga aperceber-se rapidamente de qualquer ovo que lá caia.



O conjunto de materiais ainda ocupa um certo espaço. Não se dedique a este hobby se não tiver a certeza de possuir um local adequado disponível para a criação dos seus peixes. Eu, por exemplo, fiquei sem grande parte do meu quarto de trás (as fotos são do meu "centro de criação").



Os aparelhos e dispositivos acessórios devem ficar escondidos e fora do caminho, de forma a evitar acidentes. *



Os diferentes produtos necessários para uma criação de Bettas com sucesso.

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segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

Como eu consegui criar os meus pequenos Betta

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